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Projeto em áreas de Contagem e BH estimula autonomia comunitária

18/05/2011
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Criada pela atual gestão da UFMG, a Coordenadoria de Políticas de Inclusão Informacional (CPInfo) desenvolve, com a participação de estudantes ligados ao programa Conexões de Saberes, projetos que identificam novas lideranças e estimulam a autonomia comunitária em área de Contagem e no Aglomerado da Serra, na capital. E lança nesta terça, 17, um livro – Cultura informacional e liderança comunitária: Concepções e práticas (leia mais) – destinado às equipes envolvidas e aos jovens das comunidades.

Nesta entrevista ao Portal UFMG, a professora Maria Aparecida Moura, da Escola de Ciência da Informação (ECI) e coordenadora da CPInfo, explica em detalhes o projeto e fala dos objetivos e da inspiração para a criação da Coordenadoria, que é vinculada à Diretoria de Divulgação Científica (DDC) da Pró-reitoria de Extensão. “Queremos fazer circular a informação e facilitar o encontro entre pesquisadores e a sociedade”, afirma Cida Moura.

O que é o projeto na região do Nacional, em Contagem, e no Aglomerado da Serra?

São iniciativas distintas. No caso do Nacional, o projeto integra um conjunto de iniciativas previstas pela prefeitura de Contagem. Queríamos trabalhar com os municípios da região metropolitana de Belo Horizonte. Como Contagem tinha a perspectiva de trabalhar com sete agências da ONU, para redução dos índices de violência contra jovens, e como a prefeitura iria dar início a uma série de estudos e iniciativas visando estimular a participação juvenil, optamos por nos juntar a essas iniciativas. É uma área que chegou a ter toque de recolher no ano passado, onde os jovens estão em estado de vulnerabilidade muito grande. Estamos introduzindo um conceito novo de cultura informacional utilizando recursos digitais, que chamam muito a atenção do público jovem. O foco das ações das agências da ONU é o desenvolvimento de capital social, empoderamento e transferência de conhecimento com avaliação, disseminação e replicabilidade.

O projeto na Serra integra as iniciativas do projeto de extensão Conexões de Saberes e tem por objetivo compreender e apoiar a participação juvenil em torno das questões culturais e como isso se articula na consolidação de novas lideranças no Aglomerado. Contagem tem um nível de institucionalização mais alto, porque lidamos com o poder público, e no caso do Aglomerado nosso ponto de contato são as próprias lideranças locais e o nível de formalização é menor.

O projeto quer identificar lideranças comunitárias, com que objetivo?

As organizações comunitárias formais ou informais estão sempre às voltas com a questão do espaço para sociabilidade a partir da informação, seja cultural ou utilitária, sobre empregos ou direitos, por exemplo. Em geral, o início das associações está sempre relacionado a resolver ausência ou acesso restrito à informação. Criam-se ali espaços para as crianças fazerem dever de casa, para os jovens produzirem um boletim, ensaiar uma peça etc. Com base nessa experiência, e considerando que o público juvenil desenvolve um tipo de protagonismo diferente das lideranças comunitárias tradicionais, pensamos em identificar essas lideranças tradicionais e como essas lideranças fazem a transição e a formação de líderes do futuro. Como se dá essa transição de “poder” nas comunidades. E percebemos que esses espaços comunitários voltados para as questões informacionais poderiam servir para a identificação de um provável protagonismo juvenil.

Quais são os mecanismos para esse trabalho de identificação?

Num primeiro momento queremos saber quais são os equipamentos informacionais que existem nas comunidades, de que modo as lideranças lidam com esses espaços, qual é o nível de carência ou de profissionalização existentes. E tentar, pela via da formação cultural voltada para a solidariedade em rede, para o compartilhamento de informação entre os jovens, viabilizar esses espaços de difusão e também do despertar desse público juvenil para a importância da informação no exercício e defesa dos direitos do cidadão. Estamos buscando o que chamamos de autonomia esclarecida. Estamos sempre falando de autonomia, mas o que acontece muito nos projetos da Universidade é que ela entra nessas iniciativas, mas é muito difícil sair. As comunidades acabam ficando muito dependentes se não temos a perspectiva de formação da própria comunidade.

Como o projeto lida com as lideranças novas e as tradicionais?

Nossa ideia é identificar potenciais lideranças e pensar o saber intergeracional, estabelecendo articulação entre lideranças tradicionais e as emergentes, e ver formas de compartilhamento de saberes. É preciso chamar esses jovens, que deixam de participar não porque não se identificam com os problemas, mas por falta de uma linguagem e de um projeto que os inclua efetivamente, do ponto de vista de suas demandas por acesso à informação. Por vezes eles têm uma forma de olhar diferente daquela das lideranças tradicionais, que em função de seu modus operandi acaba por não considerar o ponto de vista dos jovens. Como aqui na Universidade temos a experiência de trabalhar com esses dois segmentos de liderança, queremos provocar o diálogo entre elas e, a partir disso, sedimentar continuidade dentro das comunidades.


Qual o papel do livro que será lançado esta semana?

Como nosso eixo é a autonomia esclarecida, consideramos fundamental deixar um conteúdo para a comunidade, um material sistematizado que permitisse a continuidade. É o que chamamos sustentabilidade das propostas sociais. É um material didático destinado a orientar as práticas. E produzimos um e-book que contém informações verticalizadas sobre cada tópico proposto no livro e também um conjunto de exemplos, dispositivos e tecnologias de acesso livre que podem ser experimentadas pelas comunidades que integram o projeto. É um ponto de partida. Levamos em consideração, em primeiro lugar, pensar a informação para o protagonismo comunitário: defesa do consumidor, a questão da cidadania, enfim, tudo que se relaciona ao uso cidadão da informação. O outro eixo é o da cultura informacional e digital. Mostramos do que é feita essa cultura, quais são as possibilidades e os limites dela, e exemplificamos com um conjunto de coisas. O livro fala da Wikipédia, de como se organiza uma biblioteca comunitária, o que é informação utilitária, como podemos utilizar os dispositivos móveis e as redes sociais. Além disso, como o pessoal das comunidades tem sido chamado a apresentar propostas para leis de incentivo à cultura, por exemplo, e esse mercado cultural, social, se profissionalizou muito, grande parte das comunidades fica alijada do processo, porque apresenta propostas sem o formato adequado. Optamos então por chamar a atenção para o que é um projeto cultural ou social, quais são os trâmites, dando instrumentos para que eles trabalhem na gestão das suas propostas.

Mas o livro é voltado também para os estudantes envolvidos no projeto...

Estamos formando e sensibilizando os estudantes da Universidade que vão atuar no projeto e os jovens que moram nas comunidades. Queremos que nosso trabalho não perca a força quando formos embora. O livro é uma tecnologia social que permite às pessoas entenderem um pouco o fluxo e a ordem das coisas. A mídia apregoa muitas vezes que pra ter um projeto social é preciso boa vontade. Mas sabemos que não bastam boa vontade e engajamento, dependendo das circunstâncias isso perde a força. É preciso planejamento de curto, médio e longo prazo, formas de envolvimento das comunidades e de financiamento de ações, assim a chance de dar certo é maior. Mas como vou formar o meu grupo se eu não tenho um conceito? Esse conceito será alargado na formação dos nossos alunos e ainda mais na prática comunitária. E quando sairmos das comunidades não haverá um choque tão grande. Como temos também de fomentar o funcionamento em rede, isso vai permitir mais trocas, tanto entre os integrantes do Conjunto Nacional de Contagem , quanto no Aglomerado da Serra.

Quais são os prazos para esses projetos, e qual a equipe envolvida?

Previmos para Contagem prazo de dois anos para o desenvolvimento do projeto, envolvendo identificação, pesquisa, prospecção, consolidação de tecnologias sociais, formação, avaliação e saída planejada. Os estudantes são ligados ao projeto Conexões de Saberes, que funciona em três eixos. Um deles discute a questão da democratização da universidade, outro trabalha na relação da academia com os movimentos sociais, e há um eixo transversal, em que nós atuamos, que trabalha com a democratização da informação. Tenta-se pensar dispositivos, metodologias, tecnologias que permitam formar criticamente quadros na universidade e fora dela orientados para democratização da informação. Catorze estudantes vão trabalhar simultaneamente nas duas comunidades. Quando desenvolvemos esse projeto, vimos que o Conexões seria parceiro estratégico, porque a presença daqueles estudantes seria importante para sua própria formação. E começamos a estabelecer outras parcerias com outros grupos dentro da Universidade. Em Contagem, onde há um comitê gestor para o projeto da ONU, temos uma mestranda de psicologia social e a participação da professora Claudia Mayorga, que coordena o Conexões, e os coordenadores dos outros dois eixos do programa, que também colaboram.

Há espaço para pós-graduandos integrarem esse trabalho?

Sim, temos conseguido articular em torno das nossas iniciativas a participação de mestrandos e doutorandos. Esse livro, por exemplo, foi escrito por estudantes que desenvolveram algum trabalho na fronteira entre o social, o tecnológico, o comunicacional. Oitenta por centro dos autores são alunos da nossa pós-graduação que têm alguma experiência que veio ou da pesquisa acadêmica ou de suas próprias vivências comunitárias, e que eles compartilham agora.

Há previsão de outros projetos na região metropolitana?

Como essas iniciativas precisam ter sustentabilidade, à medida que vão surgindo editais apresentamos propostas. Apresentamos, também com o Conexões de Saberes, proposta para edital da Fapemig que visa à sensibilização para as tecnologias informacionais e digitais, trabalhando espécie de letramento digital voltado para as práticas sociais. Esses projetos nos viabilizam financeiramente. Porque nem sempre, quando se criam setores como a CPInfo, temos todos os elementos para viabilizar os projetos. Para os recursos humanos vamos criando parcerias aqui e ali. Também recentemente enviamos um projeto para o MEC voltado para a construção de uma espécie de cartografia das memórias e ofícios dos artesãos do Jequitinhonha. Vamos trabalhar com uma tecnologia social chamada digital storytelling, para registro das memórias desses mestres de ofício e do ritual de passagem para os jovens que aprendem os ofícios. Está inserido na área de tecnologias sociais, tecnologias digitais e saberes intergeracionais. Vamos trabalhar com cinco municípios do Vale, produzindo mostras itinerantes e um e-book específico. Nossa intenção é que o canal UFMGTube e as outras mídias da UFMG sejam espaços de divulgação desses conteúdos.

A CPInfo tem perspectiva também de parceria com a prefeitura de Belo Horizonte...

A região de Contagem em que vamos trabalhar faz fronteira com Belo Horizonte, e o trânsito de jovens nessa área é intenso. Muitos de Contagem frequentam as escolas de BH e vice-versa. Muitas pessoas acharam que a gente devia desenvolver algo voltado para o diálogo entre esses dois espaços institucionais. Com a prefeitura de BH, o foco continua sendo o jovem, mas muito mais no espaço escolar. Vamos trabalhar com a formação dos formadores, com bibliotecários e agentes de informática. As pessoas ficam sabendo de alguma iniciativa e nos procuram. Tentamos então modelar serviços ou projetos que se apliquem. O fato de termos equipe pequena é mais uma razão para focarmos em tecnologias que deem autonomia. Para que a universidade possa ser um espaço de circulação desses saberes e de apoio à consolidação das iniciativas. Não podemos ficar muito tempo numa comunidade só. Queremos provocar o diálogo entre as instituições e as lideranças nas comunidades.

O que, afinal, inspirou a criação da CPInfo e quais são suas diretrizes principais?

Criamos a Coordenadoria inspirados na ideia do retorno e ampliação do diálogo da Universidade com a sociedade. É algo dos anos 80, eu diria. Naquela época os pesquisadores iam muito a campo, às comunidades. E acabaram desenvolvendo muitas iniciativas de apoio a associações de moradores, centros de documentação e informação popular. Tudo isso voltado para a consolidação da informação para a defesa dos direitos de cidadão. Surgiram naquela época várias iniciativas voltadas para grupos sociais como os indígenas, trabalhadores, agricultores, mulheres. Carecíamos muito de um fluxo de informação, havia muita dificuldade de fazer circular a informação de interesse público, porque a grande mídia estava na mão dos grandes conglomerados. As redes sociais já funcionavam, só que não com essa visibilidade digital que temos hoje. Foram iniciativas de gente como Betinho e entidades como o Ibase que apoiavam a circulação de informações do ponto de vista das classes populares. Com esse processo de democratização da informação ligado à internet, às novas tecnologias e às mídias sociais, sentimos falta do diálogo entre os parceiros acadêmicos e a comunidade em geral. Se as pessoas querem desenvolver um trabalho junto com a Universidade, por onde começam? Procuram um pesquisador ou algum setor? Nosso esforço é o de dar maior visibilidade para as ações sociais, culturais e acadêmicas de tipo novo, vamos dizer assim, que têm sido desenvolvidas na Universidade e permitir, por meio de um conjunto de serviços e produtos, que as pessoas se aproximem, sabendo exatamente a quem procurar. Queremos ser facilitadores desse encontro entre pesquisadores e a sociedade. Em tempos passados atuávamos para possibilitar que as pessoas que estavam à frente dos movimentos sociais pudessem resistir. Fazíamos circular a informação. É um pouco utópico, mas é o momento de tentar empreender a partir das mídias sociais algo que é histórico nos movimentos. E grande parte das pessoas que estão na Universidade hoje fizeram parte dessas experiências.


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