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Economia mineira enfrenta desafio

16/08/2010
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Onde estará a economia mineira nos próximos 15 anos? Mais ou menos onde sempre esteve, o que pode levar o estado a perder participação no cenário nacional e a aumentar as desigualdades intrarregionais. Estudo realizado pela Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostra que o aumento da participação dos setores extrativos, de metalurgia e siderurgia no Produto Interno Bruto (PIB) estadual, combinado com a desaceleração das exportações, levarão a uma queda de 0,6 ponto percentual – de 9,1% para 8,5% – na participação do estado na economia nacional. E também a um aprofundamento da desigualdade: a participação da Região Metropolitana de Belo Horizonte no PIB mineiro crescerá de 55% em 2007 para 57,4% em 2025. Enquanto isso, o Vale do Jequitinhonha perderá representatividade, saindo de 0,8% do PIB estadual para 0,7% no mesmo período.

O cenário traçado pelos professores da UFMG mostra que, nos próximos cinco anos, as exportações ainda crescerão muito, mas a partir de 2015 a tendência é de desaceleração. “Não há dúvidas de que a economia mineira se especializou no setor mínero-metalúrgico, porque isso trouxe uma vantagem importante para o estado. Mas, lá na frente, quando a economia nacional mudar o seu foco, essa especialização pode não ser mais tão benéfica”, diz Edson Domingues, professor da Face/UFMG e um dos autores da pesquisa. Entre 2012 e 2025, de acordo com as projeções, o país entrará numa fase de crescimento sustentado a uma taxa de 4,5% ao ano. Esta expansão será puxada pelo consumo interno, que responderá por mais de 60% de toda a renda nacional, com tendência expressiva de crescimento..

Para Jane Noronha, professora de economia da Universidade Newton Paiva, as perspectivas traçadas pelo estudo da UFMG fazem sentido. “Além de baixo valor agregado, o minério é vulnerável à cotação internacional. Não há alternativas para absorver eventuais quedas do mercado externo dentro do mercado interno”, sustenta. Foi o que ocorreu no ano passado, durante a crise global, lembra Domingues. “A economia mineira caiu violentamente. Isso dá ideia do que pode acontecer quando o setor exportador desacelera”. O professor explica que o levantamento não é uma previsão do futuro. “Apenas indica que, se o estado quiser aumentar sua participação na economia brasileira, será preciso diversificar sua indústria”.

DESCENTRALIZAÇÃO A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais trabalha com projeções de médio prazo para a economia mineira. De acordo com o secretário Sérgio Barroso, nos próximos cinco anos Minas deverá crescer um ponto percentual acima da média nacional. Ele aponta para a descentralização do desenvolvimento no estado. “Estamos trabalhando fortemente para a diversificação. Dos 2.480 novos projetos para a indústria, aproximadamente 500 estão na velha economia (setores de mineração, metalurgia e siderurgia) e o restante na nova economia”, diz.

A desaceleração das exportações prevista para ocorrer a partir de 2015 pelo estudo da UFMG, porém, terá a vantagem de propiciar ao país maior independência em relação ao mercado externo. As vendas externas brasileiras tendem a crescer menos a partir de 2015, ainda que tenham iniciado a década extremamente aquecidas, com previsão de aumento de 11,53% em 2010. Isso significa que estados brasileiros mais dependentes de saldos de exportação vão reduzir sua participação no crescimento do país, abrindo espaço para os que têm como base uma economia mais diversificada.

A lenta divisão do bolo no país

Desigualdade entre municípios caiu entre 1996 e 2007, mas riqueza ainda é concentrada e 10% dos mais ricos respondem por 78,1% do PIB brasileiro. Fatia dos 40% mais pobres é de 4,7%

A riqueza brasileira ainda está concentrada na mão de poucos municípios, mas o país começou a tentar dividir melhor o bolo no período entre 1996 e 2007. É o que mostra o estudo “Desigualdade da Renda no Território Brasileiro”, divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em 2007, os municípios entre os 10% mais ricos participavam com 78,1% do PIB nacional. Já os municípios entre os 40% mais pobres registravam uma participação de apenas 4,7%.

A partir da segunda metade da década de 1990, o grau de concentração da riqueza começou a ceder, em plena fase de estabilidade monetária e da descentralização do gasto público com educação e saúde, depois da Constituição de 1988. Nesse período, o grau de concentração dos Produtos Internos Brutos (PIBs) municipais caiu levemente, com baixa de 2%. Desta vez, o indicador usado para medir a concentração de renda foi o índice de Gini (quanto mais alto, pior a desigualdade). Com isso, o indicador de desigualdade caiu de 0,88 em 1996 para 0,82 em 2007.

De 1996 a 2007 foi registrada leve queda na desigualdade em todas as regiões brasileiras. O melhor desempenho foi identificado na Região Nordeste (baixa de 4,8%), com o coeficiente de Gini passando de 0,84 para 0,80. Em seguida, aparecem o Norte do país, com queda de 3,6% (de 0,83 para 0,80) e o Sul, com 2,5% (de 0,81 para 0,79). A desigualdade caiu 1,2% no Centro-Oeste, com o índice de Gini passando de 0,86 para 0,85. Por fim, o Sudeste registrou redução de 1,1%, de 0,90 para 0,89.

“A desigualdade está em queda, mas o país carece de uma política de descentralização do setor produtivo, com a melhor distribuição de créditos fiscais pelo governo federal”, alerta Márcio Pochmann, presidente do instituto. Ele lembra, porém, que não adianta tentar frear a locomotiva representada por São Paulo e pelos estados da Região Sudeste. “Isso não significa enfraquecer uma região em detrimento da outra, mas valorizar as vocações de cada uma das regiões, buscando uma perspectiva de integração nacional”, compara.

Nos anos 1920, a situação da desigualdade no país era menos dramática em relação à situação atual. Entre 1920 e 2007, o Brasil atravessava uma fase de alta concentração de riquezas. Nesse período, os municípios entre os 40% mais pobres registraram perda relativa na participação do PIB de 9,4% para 4,7% e, no caso dos municípios entre os 70% mais pobres, a participação caiu de 31,2% para apenas 14,7% no período.

A partir dos anos 1970, a desigualdade começa a cair, com o segundo Plano Nacional de Desenvolvimento, no regime militar. O processo de melhora permanece com a Constituição de 1988, que impõe a descentralização dos gastos públicos com saúde, educação e habitação, que passam a ser responsabilidade dos municípios. Na década de 1990, a guerra fiscal entre os estados e a privatização provoca o deslocamento de grandes empresas para outras regiões brasileiras, além do Sul e Sudeste. “Mais recentemente, a criação do PAC da infra-estrutura e da energia permite dar continuidade ao processo, mas ainda falta ao governo federal identificar as bases de desenvolvimento das regiões”, afirma o pesquisador (com agências).


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