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Mercado Central - Patrimônio imortalizado

11/06/2010
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A cerveja gelada é degustada ali mesmo, no balcão, sem pressa do cliente ou de quem atende. Em uma banca mais adiante, o freguês segue o mesmo ritmo para se servir do abacaxi, que ganhou a singularidade de ser oferecido no palito. A clientela do mundo inteiro é disputada no gogó, e há até quem suba em caixotes para falar mais alto. O jiló é saboreado em meio a bifes fartamente acebolados, no canto que der e couber. Quem conhece o Mercado Central de Belo Horizonte quase pode sentir os cheiros típicos do lugar ao se lembrar dessas particularidades. Mas, e se com o passar do tempo esses costumes se perderem no passado? A pergunta foi o ponto de partida para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) trabalhar em um documentário e um livro que serão registros das muitas memórias e perspectivas do espaço. Com lançamento previsto para este ano, ambos armazenam as boas lembranças e histórias do tradicional recanto da capital e servem como um presente para as futuras gerações.

Se Minas são muitas, o mesmo vale para o mercado. Por isso, em 2008, o Iphan começou o levantamento das histórias que se multiplicam pelos corredores desse ponto turístico de BH. Segundo a coordenadora de Patrimônio Imaterial do Iphan, Corina Moreira, o trabalho, concluído em abril de 2009, contou com o depoimento de 18 pessoas, entre frequentadores, autoridades e comerciantes. “Foram discursos lindos, de pessoas que amam esse lugar”, revela.

O objetivo do documentário é manter vivas as tradições que, para Corina, refletem a identidade da capital. “Estamos contribuindo para que a memória desse lugar não se perca, mesmo com o passar do tempo e com as mudanças que naturalmente ocorrem.” Ela destaca um dos espaços retratados no documentário, a Praça do Abacaxi, onde os clientes devoram a fruta no palito. É essa fórmula que atrai o aposentado José Márcio Miranda, de 57 anos, e o artista plástico Pedro Claret Rezende, de 60. O primeiro sai de Mariana, praticamente todos os dias, para degustar o abacaxi no mercado, isso já há 20 anos. “Vir a BH e não entrar por esses corredores é como ir a Roma e não ver o Papa. Belo Horizonte está aqui”, garante. O mesmo acredita Pedro, que há 40 anos é frequentador assíduo. “Com o passar do anos, muita coisa melhorou aqui. O mercado vem acompanhando o tempo, sem perder sua tradição. Isso é fantástico.”

Segundo o superintendente do Mercado Central, Luiz Carlos Braga, por dia passam pelo espaço 30 mil pessoas, número que, aos sábados, chega a 56 mil. “Esse trabalho do Iphan é como se fosse a nossa memória. Será que daqui a 50 anos as pessoas terão noção de como era isso aqui?”, pergunta, comparando a estrutura atual com a de 80 anos atrás, quando o mercado foi fundado. “Eram barracas. Não tinha nem teto”, diz, antes de completar: “Hoje, estamos com boa estrutura para atender tantos os interesses dos comerciantes quanto os dos clientes”.

Mesmo com a evolução, é fácil ver por lá, em pleno século 21, grãos sendo vendidos a granel, como na loja de Ângelo Paulo dos Santos, que há 25 anos trabalha no mercado. “Até hoje mantenho alguns costumes, como a venda com caderneta”, revela. No Bar da Lora, que arrebatou o primeiro lugar deste ano no festival Comida di Buteco, Elisa Cristina Fonseca, que dá nome à casa, mantém firme a fama de boa comida do lugar e confirma: jiló, que pode ser encarado no mercado de várias formas e para todos os gostos, é o forte. “Aqui é democrático: vem gente de todos os cantos do mundo e de todas as classes sociais. Essa é a verdadeira tradição”, diz.

FUTURO Para o presidente do mercado, Mácoud Rademaker Patrocínio, há muito esforço da administração, dos lojistas e também dos clientes no sentido de que o local não perca suas características. “Mas alguns ramos estão diminuindo, como as floriculturas, que têm perdido o espaço para a venda de flores em supermercados. No Mercado Central, já chegamos a ter 23 lojas, mas hoje são apenas sete”, lamenta.

Depois de lançar o documentário, o Iphan planeja fazer um inventário sobre o mercado. “Esse espaço que estamos cultuando é um bem imaterial e um lugar referencial, com um significado diferenciado para BH. É um bem cultural de costumes e sociabilidade. Queremos que ele seja transformado em bem imaterial, mas, para isso, a comunidade precisar pedir o registro. O problema é que muitos comerciantes acham que, com esse título, o local não poderá ser alterado. Isso não é verdade. Um bem material é que não poder modificado. No caso do imaterial, não: há diretrizes que são criadas e limites para não perder a essência do lugar”, explica Corina Moreira, do Iphan.
 


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