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Por dentro das pesquisas eleitorais

21/05/2010
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Por Antônio Augusto de Queiroz*

As pesquisas eleitorais medem a intenção de votos ou a percepção dos eleitores apenas e exclusivamente no momento da coleta dos dados, e, deste ponto de vista, são um retrato parado ou um diagnóstico, que pode ser alterado na medida em que o eleitor receba novas informações sobre os candidatos, suas propostas, apoios etc.

Entretanto, mesmo sendo um dado estanque, o que se afere nas pesquisas pode fornecer importantes pistas para a projeção de cenários, desde que se conheça a metodologia, as margens de erro, os estímulos que antecederam a pesquisa, os elementos novos em relação a pesquisas anteriores, entre outros dados pouco analisados ou divulgados pela imprensa.

Esta reflexão veio a propósito das recentes pesquisas eleitorais do Vox Populi e da Sensus, que mantiveram um empate técnico entre os candidatos Dilma (PT) e Serra (PSDB), porém com inversão de posições. Na pesquisa anterior dos dois institutos, Serra estava à frente. Na última Dilma está à frente, porém dentro das margens de erro nos dois casos.

As margens de erro são muito importantes na leitura de uma pesquisa, já que, embora possam variar de 2 a 5% como média, dependendo do instituto e da metodologia empregada, elas são muito elásticas de região para região, dependendo do número de eleitores pesquisados, podendo oscilar de 1 a 10%.

Outro dado importante, na leitura da pesquisa, é o nível de informação dos eleitores a respeito do candidato: 1) se é de situação ou oposição, 2) se defende este ou aquele programa, 3) se possui esta ou aquela trajetória política, 4) se é apoiado por fulano ou por beltrano, 5) se é experiente ou inexperiente na vida pública, 6) se, quando foi governo, teve bom desempenho, 7) se seu grupo político é inatacável do ponto de vista ético e moral, entre outros aspectos.

Finalmente, deve considerar a estrutura do questionário para verificar se é igual ou teve alteração em relação ao questionário anterior; se excluiu ou acrescentou nomes na lista de candidatos; qual a seqüência de perguntas e quais são as alternativas de resposta; se houve modificação que amplie ou reduza as opções dos eleitores.

Por exemplo, a cartela de candidatos que Vox Populi e Sensus mostram aos entrevistados para que eles escolham em quem votariam traz os nomes dos candidatos e seus respectivos partidos. No caso do Datafolha e do Ibope, essa cartela traz apenas os nomes dos candidatos, sem o partido. E esse aparente detalhe, porém, pode fazer uma grande diferença no resultado da pesquisa. Isso ilustra a complexidade da análise das pesquisas.

Entre a penúltima e a última pesquisa dos institutos Vox Populi e Sensus, por exemplo, houve três fatores que precisam ser avaliados, para um diagnóstico preciso.

O primeiro foi a saída de Ciro da disputa eleitoral, não figurando mais o seu nome entre os postulantes à sucessão de Lula.

O segundo foi a inclusão no questionário dos candidatos dos pequenos partidos, que anteriormente não constavam.

E o terceiro foi a utilização, pela candidata do PT, de cinco minutos de pequenas inserções na TV, variando de 30 segundos a um minuto nos dias 6, 8 e 11 de maio, antes da aplicação do questionário do Vox Populi (campo de 8 a 13).

É importante observar que o programa partidário do PT (ancorado por Lula), apresentado na noite do dia 13 de maio, não foi captado pela pesquisa Vox Populi (campo de 8 a 13), mas ainda pegou o último dia da pesquisa Sensus (campo de 10 a 14). A próxima pesquisa, do Datafolha, que será divulgada entre os dias 22 e 23 de maio, já irá considerar plenamente a repercussão do programa partidário do PT.

A saída de Ciro da disputa, pelos dados das pesquisas anteriores, tenderia a beneficiar José Serra, por ter o nome mais conhecido entre os candidatos à presidência e também pela desinformação do eleitor em relação ao fato de que Dilma é a candidata de Lula.

Antes das duas últimas pesquisas, pelo menos 30% dos eleitores, especialmente os de baixa escolaridade e baixa renda, que moram nas periferias dos grandes centros ou no interior do País, não sabiam ainda que Dilma é a candidata de Lula. Este dado é relevante porque é um eleitorado com perfil de eleitor de Lula, que provavelmente, em sua maioria, tenderia a acompanhar a escolha do atual presidente para sucedê-lo.

O segundo dado, a inclusão no questionário dos candidatos dos pequenos partidos, que ficou em zero na pesquisa Vox Populi, chegou a 3,7% na pesquisa Sensus.

O terceiro ponto, em complemento aos anteriores, é que as inserções da candidata do PT entre a saída de Ciro e a realização destas duas últimas pesquisas tenham diminuído a migração para Serra de parcela dos eleitores de Ciro que tenderiam a votar no candidato do PSDB por desinformação, além da candidata do PT ter arregimentado novos eleitores por sua exposição na TV.

Um fato que nenhuma pesquisa deixou de registrar é que Dilma, desde que foi escolhida por Lula e assumida como pré-candidata do PT e de parcela expressiva da base do Governo no Congresso, só tem crescido nas pesquisas e cresce na exata medida em que os eleitores "descobrem" que foi ela a escolhida por Lula para sucedê-lo na Presidência.

Todos estes comentários possuem apenas um propósito. Alerta que: 1) não há clareza que Dilma já ultrapassou Serra, porque o resultado está dentro da margem de erro e, para efeito estatístico, continua o empate técnico, ainda que com posições invertidas; 2) persiste a tendência de que a candidata do PT ultrapasse o candidato do PSDB, graças à lealdade do eleitor a Lula e na medida em que for sendo informado que ela é candidata dele; 3) outras pesquisas, de outros institutos, especialmente do Datafolha, que será divulgada neste final de semana, ainda podem dar Serra na frente.

A pesquisa é ferramenta fundamental, amplamente utilizada em campanhas eleitorais e nos planejamentos para lançamento de produto ou venda de serviço, porque permitem conhecer o pensamento e opinião do eleitor, dos usuários ou consumidores de produtos e serviços. Decisões estratégicas de governo, de mercado e dos agentes econômicos e sociais geralmente são precedidas de pesquisas, especialmente as qualitativas. Ignorá-la significa agir amadoramente.

Aguardemos o resultado das próximas pesquisas, que precisam ser lidas considerando as observações deste texto e outras próprias da complexidade das pesquisas eleitorais, para que haja clareza da tendência do eleitorado.

(*) Jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap


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