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Greve expõe crise nas universidades

11/07/2012
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Em meio à pior greve dos últimos 10 anos, que se estende há mais de 50 dias, o sistema de ensino superior público  é  posto  em  xeque.  Professores  federais,  servidores  técnico-administrativos  e  estudantes —  que aderiram  ou  não  a  greve — reivindicam  melhores  condições  nos  câmpus  mantidos  pelo  governo  federal.  As principais  críticas são  direcionadas  ao  Programa  de  Apoio  a  Planos  de  Reestruturação  e  Expansão  das Universidades  Federais  (Reuni),  criado  em  2007  pelo  Ministério  da  Educação  (MEC).  Com  o  objetivo  de aumentar a oferta de vagas, alegam integrantes da comunidades acadêmicas, a preocupação com a qualidade ficou para trás.

De acordo com essas críticas, as 59 universidades federais apresentam dificuldades para manter o padrão de excelência pelo  qual  ficaram conhecidas.  O elenco  de  queixas  inclui  laboratórios  sem  equipamentos  e  classes lotadas. Um exemplo: turmas de mais de 50 alunos de graduação de medicina dividindo o mesmo cadáver na aula de anatomia. Aferir essa situação com rigor é difícil. Segundo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o MEC pretende criar indicadores para avaliar a qualidade da expansão nas instituições. Outra ideia é aprimorar o atual sistema usado  para  a  avaliação  nas  universidades  federais.  Atualmente,  o  MEC  utiliza  o  Exame  Nacional  de Desempenho de Estudantes (Enade) para aferir o rendimento dos alunos dos cursos de graduação, ingressantes e concluintes. O  aumento  das  vagas  de  ingresso  teve  impacto  no  número  total  de  matrículas  em  instituições  federais,  que passou  de  638  mil  para  mais  de  1  milhão,  um  crescimento  de  aproximadamente  60%.  Foram  criados  2.046 cursos. De acordo com o MEC, o investimento para o aumento da infraestrutura até o momento foi de R$ 8,4 bilhões.

No processo de expansão das universidades federais, o MEC criou nos últimos oito anos 42.099 vagas por meio de concurso, sendo 21.421 para docentes e 20.678 para técnicos-administrativos. De acordo com informações do Censo da educação superior, em 2003 eram 88.795 docentes nas instituições públicas. Em 2010, os dados mais recentes disponíveis, houve aumento para 130.789, 47% a mais  — crescimento inerior, portanto, ao do número  de  alunos.  Há  duas  semanas,  a  presidente  Dilma  Rousseff sancionou  a  criação  de  mais  de  77  mil cargos efetivos destinados  às  universidades  e  aos  institutos  federais  de  ensino.  A  ocupação dos  cargos  deve ocorrer gradativamente até 2014.

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) registrou em nota do mês passado que o Reuni foi um dos melhores e maiores projetos para a sociedade. A entidade, no entanto, pondera que projetos de expansão precisam de tempo para ser equacionados.

Interiorização

O Reuni resultou na interiorização dos câmpus das universidades federais, aumentando o número de municípios atendidos  de  114,  em  2003,  para  237  até  o  fim  de  2011.  Desde  o  início  da  expansão,  já  foram  criadas  14 universidades e mais de 100 câmpus. A previsão para 2014 é chegar a 63 unidades federais no país, em 272 municípios. Do total de 3.885 obras, 2.417 já estão concluídas (62%) e 1.022 (26%) estão em execução. As obras paralisadas ou com contratos cancelados somam 163 (4%), as demais estão em processo de licitação. Sonia Lucio Rodrigues de Lima, professora de serviço social da Universidade Federal Fluminense (UFF), não tem dúvidas  de  que  esse  crescimento  resultou  em  precarização.  "Cinco anos  depois  da  criação  do  programa,  a situação vem à tona. Isso contribuiu de forma decisiva para a deflagração da greve", explica. A estudante do 5º semestre  de  engenharia  ambiental  Laila  de  Queiroz  Barbosa  faz  parte  da  primeira  turma  da  área  que  vai  se formar  na  Universidade  de  Brasília  (UnB) — o  curso  foi  criado  em  2010  com  o  Reuni.  "Somos  ratinhos  de laboratório. O professor, a grade, tudo ainda está sendo testado com a gente", ana lisa a jovem de 21 anos.

Para Laila, os maiores entraves do ensino superior federal encontram-se no programa de expansão do MEC. "Os calouros  têm  aula  com  40  alunos,  sendo  que  a  turma  foi  projetada  para  comportar  25.  "Eu  já  estudei  em faculdade  particular  onde  a  dedicação  dos  professores  era  muito  maior.  Na  UnB,  temos  que  correr  atrás  de tudo", relata Laila. O  professor  de  engenharia  mecânica  da  UnB  Rafael  Gontijo  garante  que  não  enfrenta  problemas  de infraestrutura.  Segundo  ele,  a  maioria  dos  laboratórios  é  bem  equipada.  No  entanto,  alerta,  isso  não  é suficiente. Na sua opinião, faltam recursos para pesquisa. Isso se reflete na falta de interesse dos alunos em aproveitar  as  oportunidades  acadêmicas.  "O mercado  de  trabalho  paga muito  bem  hoje em  dia. Um  iniciante chega às empresas ganhando mais de R$ 5 mil. Com as bolsas que temos, os b ons alunos não querem ficar", relata. O valor médio das bolsas de doutorado, que vairam conforme a área, é de R$ 2 mil. 


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