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Cutistas participam da Marcha das Margaridas

18/08/2011
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De Belém a Brasília: cutistas enfrentaram mais de 40 horas de viagem para participar da Marcha das Margaridas

A Praça do Operário, em Belém, no Pará, virou lugar de operária no último domingo (14), quando trabalhadoras cutistas do campo e da cidade, vindas de diversos municípios do Estado, se reuniram na capital paraense.

De lá, por volta das 17h, um ônibus da empresa Açaí Tour deixou a cidade para seguir rumo à Brasília, onde as mulheres se integrariam a outras Margaridas na luta por modelo de desenvolvimento sustentável, de olho na justiça, na autonomia, na igualdade e na liberdade.

Foram 2120 quilômetros. Com as paradas para almoço, jantar, banho e abastecimento na estrada, além do atraso por conta de um erro no acesso ao Parque da Cidade, no Distrito Federal, onde acampam as manifestantes, 43h e 30 minutos de viagem.

Durante o trajeto foi possível conhecer histórias como a de Raimunda Barreto, Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-Pará, que se confundem com a de muitas brasileiras. Antes mesmo de ocupar essa função na Central, ela teve de enfrentar a violência doméstica praticada pelo ex-marido. “Enquanto ele era responsável por escolher o que eu fazia, o que eu vestia, não tinha problema. As agressões começaram em 1998, quando fui para o movimento sindical, e voltaram a acontecer no início dos anos 2000, quando resolvi me filiar a um partido (Partido dos Trabalhadores). Ele queria que eu escolhesse entre a luta e a família, mas eu achava e acho que é possível conciliar as duas coisas”, conta.

Violência e crescimento

Apesar de sua atuação política intensa – integrava conselhos municipais de saúde e da criança e do adolescente em Barcarena, cidade do Pará – Raimunda prosseguiu por 10 anos sendo violentada física e moralmente. Por acreditar que o companheiro poderia mudar, por medo do que a sociedade iria pensar e, principalmente, porque não sentia ter respaldo do Estado. “Foi o movimento de mulheres do movimento sindical e a minha família que me ajudaram. Mas, foi muito difícil denunciar, principalmente porque não tinha retaguarda que a mulher vítima de violência precisa ter. Eu fui denunciar em 2007 e um delegado chamado Pamplona perguntou o que eu tinha feito para que meu marido ficasse violento daquele jeito e que a mulher só é violentada quando apronta. Como meu marido trabalhava, ele disse que achava não haver necessidade de incomodá-lo no serviço.”

O delegado se recusou a tomar depoimento e, para piorar a situação, o escrivão assediou-a sexualmente. A dirigente só conseguiu virar o jogo com a ajuda de companheiras que acionaram a corregedoria e obrigaram o agente a registrar a ocorrência. Ainda assim, o agressor foi intimado a depor, mas solto logo a seguir. Até hoje está impune e voltou a ameaçá-la. Como o governo não oferecia uma Casa Abrigo, Raimunda precisou fugir com as filhas para Belém, onde passou alguns dias. “Quem deveria sair da cidade não era eu. Eu não era a agressora. Se não houver uma estrutura para acolher, muitas outras não terão coragem de denunciar”, alerta.

Trabalhadora rural e secretária de Comunicação da CUT-PA, presente na marcha desde a 1ª edição, Valneide Silva destaca que as conquistas e a visibilidade proporcionadas pela mobilização trazem mais pessoas a Brasília, a cada ano. O próprio Pará, com dois ônibus na primeira edição, e 35 nesta, deixa claro isso. Porém, não foi só a quantidade de pessoas que cresceu, mas também a pauta de reivindicações. “Nas pautas passadas não tinha a questão da biodiversidade e do impacto dos grandes projetos”, indica.

Na luta, em Tocantis

Em diversos estados, na saída e durante o trajeto, vários estados uniram forças para promover manifestações públicas. Caso de Tocantins, que contou com a participação da Central paraense.

Ao final da caminhada que partiu da Avenida Juscelino Kubitschek e seguir até a praça dos Girassóis, centro dos três poderes do Estado, Silvia Pires, do Sintet (Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Tocantins), lembrou o significado da Marcha das Margaridas. “Estamos dando continuidade à luta desigual contra a miséria e violência sexista, pela qual muitas tombaram”.

Em discurso semelhante, Antonia Silva, da Comissão de Mulheres da Fetaeg (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás) salientou que Margarida Alves, assassinada em 1983 por um pistoleiro e inspiradora da maior manifestação de mulheres na América Latina, não é um caso único de violência no campo. “Muitas ainda estão ameaçadas de morte por conta de sua luta”, disse, lembrando o caso de Maria Joel Dias, viúva do sindicalista “Dezinho”, morto em 2000 por uma quadrilha de grileiros, no Pará.

Juntas no passo

Sob sol forte da manhã dessa terça (16), o ônibus da delegação paraense desembarcou no Parque da Cidade, uma estrutura com 80 mil metros quadrados, onde foram montados 600 chuveiros, 700 banheiros químicos e espaços para alimentação, sempre muito disputados.

Com colchonetes, malas e bandeiras nas mãos, elas dividiam espaço com outras Margaridas já instaladas, todas separadas por região. Entre elas, Maria Almeida, uma parteira acreana de 80 anos que percorreu todo o trajeto de ônibus ao lado da vizinha Aldecir Bento, também parteira. Como as filas para comer eram longas, elas resolveram improvisar o almoço com bolacha de maisena embebida em leite.

As amigas mantém a vocação de parteira, pela qual viva graças às grandes distâncias e às dificuldades de acesso às cidades. “Em muitos casos tem que percorrer 30, 40 quilômetros para chegar onde tem um carro que possa levar ao médico”, diz Aldecir.

Como ajudar crianças a viram à luz não é uma atividade remunerada, ambas vivem da agricultura. Para Maria, é preciso melhorar a estrutura das estradas para conseguir levar a produção aos consumidores. “Não adianta pegar nossos filhos e netos para dentro da cidade, atrás de emprego que não tem. Precisa melhorar lá para podermos continuar vivendo do nosso trabalho. As autoridades precisam olhar mais para a zona rural”.
 


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